A MARCA QUE PROMETE TUDO JÁ NASCEU MENTIROSA.
- Nosso Clã
- 22 de ago.
- 3 min de leitura
Há promessas que piscam como letreiros de neon: seguras demais, baratas demais, milagrosas demais. Elas brilham agora… e apagam amanhã.
Uma marca que promete tudo — milagro, escapismo, felicidade instantânea — já nasce desconectada: mentirosa por defeito. Porque prometer o mundo é não prometer nada com veracidade.
Você já percebeu como algumas marcas parecem ter uma resposta pronta pra tudo? “Transformamos vidas." “Potencializamos sua melhor versão.” “Somos diferentes de tudo que você já viu.”
Mas quando a promessa é grande demais, o vazio aparece logo atrás. Porque no fim, uma marca que promete tudo está fugindo da única coisa que realmente importa: a entrega sustentada na prática.
E quando isso falta, o marketing não é mais estratégia. É performance. É teatro. É uma máscara que uma hora vai cair.
1. A LÓGICA DAS PROMESSAS TOTALIZANTES
Vivemos a era do “hiperbranding”. Marcas não vendem mais produtos — elas querem vender propósito, valor, identidade, transcendência. E isso, em teoria, seria lindo. Mas na prática… virou abuso da palavra “transformação” com fundo musical de piano emocional.
No artigo Mentiras no Marketing Digital, a denúncia é clara:
“As promessas absurdas não são acidentes. Elas são estratégia. Estratégia de quem sabe que o consumidor está cansado — e usa esse cansaço como moeda.”
O problema não é a ambição. É a falta de limite. É querer ser tudo para todos, e acabar sendo nada com verdade.
2. O VAZIO ENTRE O DISCURSO E A REALIDADE
Essa é a ferida real: o abismo entre o que se diz e o que se vive.
A Cacau Show foi um exemplo emblemático. Nos comerciais, era empresa humana, acolhedora, colorida. Nos bastidores, denúncias de franqueados e funcionários apontavam para pressão desumana, metas inalcançáveis e abandono.
No artigo da DOM99 — “A crise do posicionamento performático” — a crítica é cirúrgica:
“A marca que performa acolhimento, mas opera com insensibilidade, não é só hipócrita. É perigosa. Porque ela treina o mercado a aceitar beleza como prova.”
Aqui está o ponto: branding sem verdade é maquiagem de guerra. Bonito pra quem olha, sufocante pra quem vive.
3. QUANDO O STORYTELLING VIROU VENDEDOR DE FUMAÇA
Storytelling virou muleta. Todo guru, toda startup, todo post quer contar uma “jornada épica”. Mas como disse Karina Francis em sua newsletter “Os discursos vazios dos novos gurus”:
“O novo guru sabe o que dizer. Ele só não vive o que diz.”
A estética tomou o lugar da ética. O storytelling virou ferramenta de hipnose, não de conexão.
E o pior: quando você exagera no enredo, o público não se conecta — ele desconfia. Ele percebe que está sendo manipulado. E você não ganha atenção assim… você compra. Caro.
4. AS PROMESSAS SÃO A NOVA FORMA DE DESUMANIZAÇÃO
No artigo da Scielo “A máquina de prometer no consumo simbólico”, pesquisadores analisam como marcas passaram a operar como deuses modernos, vendendo sentido, identidade e salvação para um consumidor vulnerável.
O estudo aponta que prometer demais é uma forma perversa de desumanizar. Porque você não fala com pessoas — você manipula carências. Você transforma desejo em algoritmo e vende alívio em parcelas.
E marcas que funcionam assim não duram. Porque reputação não é o que você diz no post. É o que os outros dizem quando a legenda some.
5. A VERDADE NÃO PRECISA GRITAR
As marcas mais fortes do futuro não serão as que prometem mais. Serão as que entregam o que prometem — mesmo que prometam pouco.
A Slideshare “Desconstruindo Marcas” traz esse ponto com clareza:
“As marcas que sobrevivem são aquelas que sustentam pequenos pactos com consistência brutal. Coerência é o novo luxo.”
Isso vale pra marcas pessoais, empresas, produtos e até comunidades. Coerência não viraliza. Mas ela fideliza. E fidelização vale mais do que qualquer lead pixelado.
Se a sua marca promete tudo, prepare-se: ela já nasceu mentirosa.
Porque o público de hoje não quer mais o “tudo”. Quer o real. Quer saber o que você faz bem. Quer saber onde você é forte — e onde ainda está em construção.
Quer sentir que o que você fala… tem lastro.
A mentira hoje não precisa ser descoberta. Ela se desfaz sozinha, na primeira fricção. Então pare de tentar prometer o mundo. E comece a entregar um pedaço dele, com coragem e clareza.
O marketing do futuro não vai premiar quem grita mais. Vai reconhecer quem tem coragem de sustentar o que diz. Mesmo quando ninguém está olhando.
Comentários