A OBSESSÃO POR NOVIDADES É O VÍCIO DO FRACO. O PACTO É COM O ESSENCIAL.
- Nosso Clã
- 8 de set.
- 3 min de leitura
Vivemos intoxicados pelo novo. Cada scroll é mais uma promessa: a nova IA, o novo app, a nova rede, o novo modelo que “vai mudar tudo”.
A ansiedade pelo próximo passo virou religião. Só que essa fé cega é frágil. Porque o que é verdadeiramente transformador não chega no ritmo do breaking news.
O futuro não será conquistado por quem corre atrás da novidade. Será entregue a quem honra o essencial.
Esse é o ponto: a obsessão pelo novo é vício. O pacto com o essencial é força.
1. Neofilia: quando a busca pelo novo vira doença
A psicologia já deu nome a essa compulsão: neofilia, amor exagerado pelo novo. Ela tem dois lados:
Luz: curiosidade, desejo de experimentar, vontade de inovar.
Sombra: superficialidade, ansiedade crônica, incapacidade de permanecer.
Segundo o professor José Clerton Martens, a neofilia, quando não é equilibrada, nos coloca em um “estado adoecido de consumo de novidades”. Ou seja: trocar a constância por compulsão. Trocar profundidade por estímulo rápido. Trocar ritual por distração.
2. A IA e o fast-food cognitivo
Com a IA, o vício pelo novo ganhou turbo. Cada semana surge um modelo, uma extensão, um atalho. E a mente, viciada em estímulos, se alimenta disso como se fosse comida ultraprocessada.
Quando terceirizamos toda a criatividade para a IA, matamos o incômodo, a espera, a gestação das ideias. Matamos o músculo criativo que só se fortalece com esforço.
“Terceirizar totalmente a criação para a IA é apagar a possibilidade de subjetivação. É delegar até o sonho.”
3. O paradoxo da criatividade artificial
Estudos recentes mostram que a IA, de fato, pode impulsionar a criatividade no curto prazo. Equipes que usaram IA em brainstormings tiveram mais ideias e soluções iniciais.
Mas o efeito colateral é brutal:
As ideias tendem a se homogeneizar (o algoritmo cria padrões, não singularidades).
A dependência aumenta (sem a IA, a produção cai para níveis abaixo do normal).
O pensamento original enfraquece (criamos menos rupturas e mais repetições disfarçadas).
É como doping criativo: dá explosão rápida, mas corrói a musculatura no longo prazo.
4. O brilho da novidade e o silêncio do essencial
A novidade é um espetáculo:
Atrai holofote
Vira manchete
Dá status temporário
Mas ela é, por natureza, descartável. O essencial é invisível, mas duradouro. É a prática silenciosa, repetida, sustentada, que não aparece no feed, mas constrói legado.
Exemplo prático:
Uma marca que muda de estratégia a cada hype digital desaparece na memória.
Uma marca que repete, com intenção, sua narrativa e identidade, cria espaço no imaginário coletivo.
O novo chama atenção. O essencial cria raiz.
5. O pacto que sustenta, e diferencia
Para escapar da tirania do novo, é preciso pacto. Um compromisso consciente com o que importa, com o que gera valor, com o que resiste ao tempo.
O vício pelo novo... | O pacto com o essencial... |
Busca estímulo imediato | Busca consistência a longo prazo |
Vive na superficialidade | Se aprofunda no que importa |
Se alimenta de ansiedade | Se enraíza em clareza |
Cria hype vazio | Cria cultura duradoura |
Precisa sempre do próximo | Constrói no agora, sem pressa |
6. Como cultivar o essencial em tempos de excesso
Ritualizar: repetir com consciência o que funciona, ajustando em ciclos.
Priorizar: separar o que é barulho do que é base.
Testar com calma: experimentar sim, mas sem compulsão.
Sustentar identidade: não ceder à tentação de ser o que o hype exige.
Cultivar silêncio: dar espaço para o vazio que gera novas formas de pensar.
A IA pode ser aliada, mas só quando você lidera o processo, e não quando se torna refém dele.
O essencial resiste. O novo, só distrai.
A obsessão por novidades é fraqueza disfarçada de inteligência. É correria para não encarar o vazio. É ilusão de que mudança constante é evolução — quando, na verdade, é só desespero bem embalado.
O pacto com o essencial é outra coisa. É firmeza. É raiz. É ritual. É a capacidade de olhar para o ruído e escolher o que importa.
A novidade dura até o próximo scroll. O essencial atravessa gerações.
Comentários